Equilíbrio do Terror - Um episódio tenso

Tensão, preconceito, dever e honra, um casamento e um funeral: é assim que podemos resumir o episódio 14, da série clássica de Star Trek.
Um resumo simplista como esse pode deixar de fora as belas nuances da trama, então quero dividir esse artigo baseado nas palavras que citei acima.

Tensão

Intitulado Balance of Terror, ou equilíbrio do terror em português, esse título remete a uma teoria de mesmo nome criada durante a guerra fria para descrever a tensão nuclear que havia entre a União Soviética e os EUA. E essa tensão é passada com maestria ao telespectador.
Neste episódio, uma nave Romulana com a capacidade de tornar-se invisível rompe um antigo tratado e aniquila quatro postos da Federação. Cabe ao Capitão Kirk tomar a decisão de revidar, porém essa atitude pode ter consequências gravíssimas, não apenas para sua nave estrelar, como para toda a raça humana, pois seguir a nave inimiga e ultrapassar a zona neutra pode trazer novamente a guerra. Para uma série antiga e datada, a surpresa que tive ao assistir este episódio foi de estar preso na trama e sentir a tensão dos tripulantes de ambas as naves espaciais. Tiros e piruetas com super efeitos gráficos não fazem falta nenhuma, já que o roteiro prende a atenção do início ao fim, usando apenas a tensão gerada pela história.

Preconceito

Até esse momento, os Romulanos eram uma raça que os seres humanos não conheciam e nem sabiam qual era sua aparência, embora tenham guerreado no passado. Através de uma transmissão interceptada, os membros da enterprise surpreendem-se ao descobrirem que a aparência dos inimigos é similar a do Mr. Spock. Surge então a desconfiança por parte do navegador, que passa não apenas a desconfiar do oficial de ciência, como a soltar indiretas e a julgá-lo como um traidor, apenas por sua aparência.

Dever e Honra

Capitão Kirk e o capitão Romulano travam uma verdadeira batalha estratégica. Enquanto a nave inimiga tem a camuflagem a seu favor, o comandante da Enterprise entra na cabeça de seu antagonista prevendo e antecipando seus ataques. A beleza do roteiro com relação a esses personagens está no fato de fazê-los "iguais" lutando em lados opostos. Não há um maniqueísmo explicito onde um representa o bem e o outro um mal. São dois capitães cumprindo seu dever e jogando o xadrez da guerra, ambos firmes em suas decisões, embora possuam seus medos internos. Se o capitão Romulano possuí suas ordens e as cumpre mesmo contrariado, Kirk enfrenta a pressão de que seus atos desencadeiem uma nova guerra. Ambos tem o senso do dever. 

Após um longo enfrentamento, a nave dos Romulanos é avariada, e Kirk vendo os inimigos derrotados oferece misericórdia aos sobreviventes, exercendo o conceito de guerra justa. Mas a honra dos Romulanos impede que o capitão receba a oferta de Kirk, preferindo explodir o que restou de sua própria nave, pondo em prática a filosofia da morte honrosa, não sem antes declarar seu apreço pelo capitão da enterprise: "Eu lamento que nos conheçamos desta maneira. Você e eu somos iguais, em uma realidade diferente, eu o teria chamado de amigo". 

Por falar no capitão Romulano, a interpretação de Mark Lenard é fabulosa.

Um casamento e um funeral

Se não bastasse todos esses elementos que engrandecem o roteiro, a cereja do bolo fica com os detalhes filosóficos que estão na abertura e no final do episódio. Um casamento entre dois tripulantes abre o episódio, mas sem que esse se encerre, pois o alerta da destruição dos postos põe a nave em alerta. O casamento é um momento feliz onde duas pessoas fazem votos de dedicarem os restos de suas vidas uma as outras e mesmo em lugar onde perigos estão em toda a parte como na nave espacial esse momento acontece, e como o próprio Kirk diz antes de ser interrompido pelo ataque, realizar o casamento é um feliz privilégio dos capitães navais.

A alegria do casamento contrasta com a tristeza do funeral. No final do episódio houve uma única baixa, aquele que na abertura era o noivo. Se o feliz privilégio de realizar o casamento cabe ao capitão, o triste dever de consolar os tripulantes com a perda de um par, ou nesse caso, de um noivo, também é do capitão. A felicidade e a tristeza também são duas mensagens passadas neste episódio.